Matéria no Diário do Comércio - 09/08/2000

Babá eletrônica

Erick Nilson Souto*

 

 

A busca da tecnologia é um caminho que deve ser trilhado com cuidado. Assim como o carro surgiu para facilitar o transporte do seres humanos, ele também mata milhares de brasileiros por ano. A discussão das aplicações e do alcance da INTERNET deve ser feita ainda neste início de século, sob o risco de depois ser tarde demais, diante dos interesses comerciais envolvidos ou direitos adquiridos.

 

Talvez o aspecto mais importante a ser discutido é o papel da INTERNET na educação dos pequenos cidadãos brasileiros. Os jovens brasileiros têm hoje acesso a informações que até mesmo seus pais não tinham até então, o que cria situações novas e extremamente perigosas. A fragilidade da personalidade do jovem é evidente e sujeita às mais diversas influências, boas ou más.

 

Fatos como os ocorridos em decorrência da falência da empresa Toysmart.Com, com maioria de suas ações controladas pela Disney, demonstram quão importante é discutir, por exemplo, a privacidade das crianças na net. O falido WebSite recentemente colocou anúncio nos grandes jornais americanos vendendo sua lista de clientes, apesar de sua declarada política de privacidade dizer expressamente que não cederia os dados de clientes para terceiros. A empresa tentou disponibilizar a quem pagasse, a lista de todas as crianças que se cadastraram em seu site, possibilitando o acesso de terceiros não ligados ao fantástico mundo das crianças a seus nomes, endereços de e-mail e idades sem notificar os pais ou obter consentimento dos mesmos. No caso em tela a lei americana de proteção à privacidade das crianças, de 1998, foi violada e os executivos da referida empresa foram acionados pelo órgão regulador antes de acontecer a venda propriamente dita, protegendo os pequenos americanos. No Brasil é mais complicado. Nossos legisladores são amantes do debate e não da ação política. Com isto, projetos de lei como a de tipificação de crimes na Internet ficam se arrastando no Congresso, enquanto nossos jovens ficam recebendo as mais diferentes informações, sem nenhum critério.

 

Um pai de família moderno a cada dia que passa tem menos tempo para dedicar aos filhos e acaba confiando sua educação às escolas, particulares ou públicas. Já os professores, agora têm de se preocupar não só com a qualidade do trabalho escolar, mas também com quantos por cento do trabalho é de autoria do próprio aluno ou de outros autores encontrados na Internet. Quanto da informação apresentada foi ou não foi absorvida pelo aluno. Que tipo de proveito este teve com a matéria abordada. Cada página de Internet é uma janela para algum assunto, matéria ou opinião. Como o pai ou a mãe vai impedir o filho de acessar esta ou aquela página? Como evitar que o jovem digite a palavra “sexo” ou “maconha” nos sites de busca e comece a navegar na Internet e aprender sobre estes assuntos de forma inadequada? Se a Internet é um fenômeno popular de menos de cinco anos, como os pais e professores podem avaliar seus usos e conseqüências? Cinco anos são um pingo d’água no oceano da história da humanidade.

 

Os novos tempos trazem novos desafios na velocidade da luz das fibras óticas e ao tempo que se lê estes escritos algum menino pode estar na Internet aprendendo como fabricar uma bomba para seu professor que julgou insuficiente seu aproveitamento na escola. Não seria a hora de priorizar a educação e evitar que a grande rede, muitas vezes com interesses empresariais, os “eduquem”?

 

* Bacharel em Ciências da Computação pela PUC Minas e Diretor da Falke Informática Ltda.

e-mail : erick@falke.com.br