Matéria no Diário do Comércio - 20/09/2000

A virtualidade também engana

Erick Nilson Souto*

Uma velha frase, conhecida de todos nós brasileiros, nunca esteve tão atual: “as aparências enganam”. No afã de “acompanhar” a concorrência, mostrar conhecimento, entendimento, ou até mesmo realizar seu trabalho em prazos cada vez menores, muitos governos, empresas ou profissionais acabam colocando de lado suas responsabilidades e arriscando na área de tecnologia. Como muitas inovações nesta área não estão previstas no direito positivo, muitas ocorrências acabam ferindo a legalidade, nos expondo as mais variadas influências, boas ou más. O grande segredo é saber onde está a boa informação.

Um profissional envolvido hoje com tecnologia tem de estar sempre atualizado. As fontes de informação se multiplicam, a demanda pela informação confiável é crescente, e o dia continua com as mesmas 24 horas.

Um exemplo prático do perigo deste afogadilho exagerado ocorreu recentemente na Bolsa de Valores Americana. Uma empresa de equipamentos de rede para computadores, chamada Emulex, foi vitima de uma fraude que causou a queda de suas ações em mais de 50%.

Um press release, que apareceu no serviço de disseminação de informações Internet Wire, dizendo que o Presidente da companhia estaria renunciando, que a Emulex teria sido forçada a refazer o balanço positivo de 1998 e 1999, além de revisar o último semestre de lucro para prejuízo, provocou uma queda brusca no seu valor de mercado em 2.5 bilhões de dólares e levou ansiedade a milhares de investidores.

Este simples movimento fraudulento causou uma reação imediata e em menos de uma hora as ações despencaram de US$ 113,06 do dia anterior para abaixo de 43 dólares. O volume de ações negociadas chegou perto de 3 milhões neste curto período de tempo e foram impedidas de transacionar duas horas e meia hora depois. As transações só foram retomadas após um comunicado oficial da Emulex dizendo que o release era falso.

A porta voz da pontocom Internet Wire confirmou que o release apareceu no serviço, mas não teceu maiores comentários alegando que a política da empresa não permitia. A Emulex disse que a informação não partiu deles. Kirk Roller, vice-presidente de vendas e marketing, disse que eles não enviaram tal release e que alguém o teria forjado usando o nome e logotipo da companhia.

As questões legais envolvidas aqui são extremamente relevantes; a situação econômica da empresa mudou de um momento para outro; a conseqüência para a vida de milhares de investidores foi imediata; mas a principal lição é que também na era do capital intelectual, aos governos, empresas, ou profissionais, não adianta a fala mansa e bonita do marketing. Tem de se ter conteúdo, assim como um bom site de Internet, jornal ou canal de televisão.  Na era do conhecimento não se engana conhecimento.

  

* Bacharel em Ciências da Computação pela PUC Minas e Diretor da Falke Informática Ltda.

e-mail : erick@falke.com.br